terça-feira, 1 de março de 2011

Comercio de almas.

Confesso que a cada dia sinto mais dificuldades em assistir TV. Ainda existem alguns bons programas na TV a cabo, mas, na TV aberta, com raríssimas excessões, não dá.
Ainda me impressiono como as pessoas ficam completamente hipnotizadas diante de um aparelho ligado, ainda que estejam com a familia em um restaurante, por exemplo.
Outro dia fui com minha esposa em um restaurante aqui em Brasilia. Iluminação  e ambiente bastante agradáveis, fim de tarde, o lugar ainda estava vazio.
Escolhemos nossa mesa em uma espécie de varanda e, enquanto olhávamos o cardápio, o garçom resolveu ligar a enorme TV de plasma que estava perto da gente.  Estava no ar um tele jornal de uma grande emissora. “Morte”, “Atentado”, “Atropelamento”, “Corrupção”, “Estupro”, “Abandono”, eram os temas das noticias que , uma a uma, substituíam a boa energia do lugar por outra, pesada, nervosa, amedrontada.  Chamei o garçom e pedi por favor que desligasse a TV ou colocasse uma música. 
Dia desses, também em um restaurante, dessa vez no shopping, notei um casal a nossa frente que não se falava, não se olhava, tocava, nada. Os dois lá comendo com olhos e pensamentos cativos, fixos na TV sem som no fundo do estabelecimento.
Para mim está cada vez mais claro que  na relação mídia/espectadores/anunciantes, nós, o público,  somos um produto fabricado, moldado e  elaborado pela mídia que nos vende ao anunciante.
Funciona assim: Quando uma empresa investe dinheiro em uma mídia, está comprando um produto – as massas. Cabe ao produtor (as mídias) adequarem aquele produto, manipulando-os para se tornarem massa adequada ao consumo, seja de produtos, comportamentos ou ideias.
Quanto maior a massa, mais volume (audiência), valorizando o preço, aumentando seu poder de negociação. Mas o produto só vira massa se for homogêneo. Quanto mais vidrados, imbecilizados, medianos e amedrontados estiverem, mais dependentes ficarão do consumo, da religião e do Estado que são justamente os que mais se beneficiam dessa condição.
O medo não apenas vende, mas molda e cria dependência. Uns alegam “mas desgraças acontecem e precisamos estar informados”. Ora, mas só acontecem desgraças? Repare na próxima vez que assistir a seu telejornal preferido e conte quantas noticias estão relacionadas ao medo.
Claro que não é só o medo. Tem a criação de totens para que projetemos neles nossas ambições, os “ídolos” e padrões de comportamento , sempre na mesma direção, afunilando o rebanho, reprimindo os que contestam, manipulando as massas.
O problema não é a TV, mas o que estão fazendo com ela.
Como ontem, eu estava em uma fila em uma loja , atrás de umas adolescentes que falavam sobre a Lady Gaga. Uma delas comentou ” A Lady Gaga é uma pessoa super original, é como se fosse uma professora de filosofia”.
Esse é nosso padrão. São nossos ícones e filósofos atuais que nos moldam, manipulam e preparam para a venda. Enquanto você senta confortavelmente no sofá com olhos vidrados , hipnotizado pelo que vê em sua tevezona de plasma paga a prestação, tente lembrar que alí é a linha de produção. Tem gente negociando seu valor, manipulando sua mente, opiniões e percepção do mundo e de si mesmo. Exagero? Comece a olhar a sua volta e responda você mesmo.
Esse é o mundo da filosofia Lady Gaga onde, enquanto os lados, lugares e os valores são negociados a portas fechadas, bilhões ficam lá, entretidos, sentados, seduzidos, inertes, hipnotizados pela telinha luminosa, produtora e negociadora de almas.
Onde você está nesse processo?
Pense nisso.

FONTE:http://flaviosiqueira.com

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