sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Rodovias escondem exploração sexual de crianças e adolescentes

A mercantilização do corpo de crianças e adolescentes tem comumente sido analisada sob as razões que levam meninas e meninos a serem prostituídos e os possíveis danos que essa forma de violência pode ocasionar a suas vítimas. Pouco se discute sobre os motivos pelos quais os homens se envolvem sexualmente com adolescentes e até mesmo com crianças. Entender esse protagonista do comércio sexual é a proposta do estudo desenvolvido pelo Departamento de Psicologia da UFS (DPS), que traça um perfil dos caminhoneiros para compreender de forma mais ampla a exploração sexual nas estradas brasileiras. 

“O objetivo principal da pesquisa era saber a visão dos caminhoneiros sobre o comércio do sexo, entender como eles lidam com a situação, e qual é o nível de envolvimento (ou não) com a exploração sexual de crianças e adolescentes. A partir dessa perspectiva, saber o nível de informação sobre o assunto”, diz o professor Elder Cerqueira, coordenador do estudo. 

De acordo com o pesquisador, foi constatada muita desinformação e uma visão muito simplista do que acontece nas estradas. “Os homens envolvidos com o problema não o percebem como algo errado porque naturalizam e banalizam o sexo, e dificilmente compreendem sua própria responsabilidade na situação”, explica. Quando questionados sobre as razões que levam crianças e adolescentes a se envolver com a exploração sexual, quase 20% dos entrevistados responderam “porque eles [crianças e adolescentes] gostam de sexo, têm prazer”. 

A noção de infância e adolescência é um dos fatores mais delicados que envolvem o problema. Os entrevistados, em sua maioria, compreendem essas etapas do ciclo vital a partir de questões biológicas (como perda da virgindade) e não como questões legais.  Segundo Elder, alguns caminhoneiros não souberam identificar até que idade corresponde a infância, por exemplo. “Essa ideia de dividir a infância e adolescência a partir de critérios legais estabelecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para o senso comum ainda é muito recente e, por incrível que pareça, para essa população ainda é pouco conhecida”.

O envolvimento com sexo pago com outras camadas da sociedade também é apresentado como um dos fatores que levam a relação sexual com menores de 18 anos. Em termos estatísticos existe uma relação próxima entre homens que já se envolveram com a prostituição e um possível envolvimento com a exploração sexual de crianças e adolescentes – 35,4% dos entrevistados que relataram envolvimento com exploração sexual de criança e adolescente já haviam saído com prostitutas. 

Além disso, têm-se condicionantes como a rotina de trabalho (os profissionais passam muitos dias longe de casa e da família), o anonimato, o instinto masculino (descrito como necessidade que o homem tem de fazer sexo) e a oferta fácil. Quase 90% dos entrevistados afirmaram que é comum ver meninos e meninas envolvidos com a exploração sexual.


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