segunda-feira, 23 de maio de 2016

Engano-me que eu gosto

Um estudo da Universidade da Geórgia reuniu há 15 anos 64 homens autodeclarados heterossexuais e os colocou para assistir a filmes pornô gay com um aparelhinho para medir a tumescência do pênis. Um detalhe: deles, 35 tinham sinais de aversão a homossexuais, e 29 não tinham nenhum. No fim do teste, veio a surpresa - só o grupo de homofóbicos se excitou com o vídeo.

"Uma possível explicação está em várias teorias psicanalíticas, que em geral explicam a homofobia como uma ameaça aos impulsos homossexuais do próprio indivíduo", escreveram os autores do estudo, liderado por Henry Adams. Ou seja, a homofobia pode ser um tipo de homossexualidade latente em que pessoas ou não estão cientes de seus impulsos homossexuais ou buscam negá-los. Esse tipo de estratégia para nos livrar de pensamentos, memórias, emoções indesejadas foi batizado pela psicanálise freudiana de "Mecanismo de defesa".

Mas espera lá! As descobertas da neurociência não passaram para trás a psicoterapia freudiana, desenvolvida no final do século 19? Sim. Mas análises de ressonância magnética feitas em 2009 pelo psicólogo Michael C. Anderson, da Universidade St. Andrews, Escócia, mostram que, em alguns casos, o mecanismo de defesa não é simples mito. A ciência e a psicanálise finalmente começaram a se conversar.

Um exemplo é a repressão. Terminou com o namorado? Você faz então de tudo para reprimir qualquer sentimento ou lembrança da pessoa. Sente tesão pela chefe? Usa então sua força de vontade para que isso não complique sua carreira, mesmo que de vez em quando solte uma saia justa sem querer.

Para verificar se esse mecanismo realmente funciona, Anderson escolheu voluntários para memorizar 48 pares de palavras. Uma vez decorados esses pares, o pesquisador então os submeteu ao seguinte teste. Ele falava as palavras e o voluntário, deitado em um equipamento de ressonância magnética, precisava ora lembrar um par correspondente, ora forçar para que ele não viesse à mente. Depois desse teste, de fato o voluntário diminuiu a lembrança das palavras que se forçou a esquecer. E isso envolveu um mecanismo diferente do que ocorre quando esquecemos algo com o tempo.

O que as imagens da ressonância magnética revelaram foi que, para suprimir as palavras, o cérebro ativou intensamente áreas do córtex pré-frontal que desativaram o hipocampo, responsável pela formação da memória.

É claro que esse é um passo pequeno demais para que a teoria dos mecanismos de defesa seja validada por completo pela neurociência. Mas é um grande passo para entender como nós conseguimos enganar a nós mesmos.

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