terça-feira, 26 de julho de 2016

O drama das mulheres escalpeladas da Amazônia

Amanhecer no rio Amazonas, entre Pará e Amapá, março de 1989. Gritos no barco do casal ribeirinho Joaquim e Maria das Graças. A filha Socorro, de sete anos, ao se abaixar para pegar um objeto no chão da embarcação, teve seus longos cabelos enroscados no eixo descoberto do motor. Com um puxão violento, a engrenagem arranca o couro cabeludo, as orelhas e fere o rosto da criança.

O acidente, chamado de escalpelamento, longe de ser uma fatalidade, ainda faz vítimas nos rios amazônicos. Mulheres e meninas, principalmente, carregam no corpo as marcas da imprudência, descaso e falhas na fiscalização. Instalado no piso do barco e sem a peça de cobertura, o eixo do motor gira em alta velocidade e pode causar danos graves nos ocupantes. Também há relatos de homens feridos nas mãos, braços, pernas e até no pênis.

Hoje, passados 27 anos, às margens do mesmo rio Amazonas, Maria do Socorro Pelais Damasceno fala de seu drama com uma firmeza que impressiona. Amamentando o quinto filho, Alessandro, de cinco meses, ela relata os traumas físicos e psicológicos dos acidentados.

Socorro conta que, no pequeno barco da família, seus pais sempre saíam para a pesca, levando os cinco filhos. Todos dormiam ali e voltavam na manhã seguinte para casa. “Minha mãe não tinha com quem deixar a gente e precisava ajudar meu pai no barco”, explica.

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