terça-feira, 26 de março de 2013

UM CERTO DEPUTADO FELICIANO


Era um deputado apagado e um pastor sem brilho. Então, resolveu urrar proclamando aos quatro ventos as sandices que o desqualificam, primeiro, como cristão, depois, como representante do povo paulista na Câmara Federal. Sandices não são raridades no nosso parlamento. Câmara e Senado aviltaram-se pela proliferação de representantes aos quais faltam requisitos que antes eram considerados indispensáveis, para que um cidadão se fizesse portador de um mandato eletivo. Mas, se o povo os elege, paciência, e que não nos falte jamais a indispensável crença na democracia. Com efeito, é preciso acreditar, e muito, nos valores intrínsecos à concepção democrática, para que não nos deixemos contaminar pela indignação, e comecemos a ter deploráveis visões nostálgicas sobre aqueles tempos em que o general Newton Cruz andava de rebenque na mão ameaçadoramente percorrendo as dependências do Congresso Nacional.

É preciso crer , e crer convictamente, na capacidade que tem o regime democrático para revigorar-se e promover as periódicas auto- limpezas, quando a consciência de cada eleitor se transforma em indignação coletiva. É indispensável uma imensa dose de esperança para suportar a ignomínia de uma Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, ainda presidida pelo repugnante deputado Feliciano. Todavia, não basta a esperança. A cidadania aviltada exige que o repúdio se transforme em protesto permanente, invadindo as redes sociais, os espaços democráticos da mídia, as ruas, onde o clamor popular, quando é ouvido, serve como remédio infalível para a correção de equívocos, até, de afrontas.

Feliciano, presidindo uma comissão de direitos humanos, é atestado de desprezo ao povo brasileiro, assinado pelos que, em hora desastrada, o escolheram para comandá-la. Manifestações agressivas de homofobia, revelam, quase sempre, graves distúrbios psicóticos consequência de irresolvida enrustição, mas, o deputado e pastor Feliciano, que costuma em tom guerreiro disseminar os seus preconceitos, os seus ódios irracionais, tem mais outras contas a ajustar com a sociedade e com a lei.

Os afrodescendentes, coitados, segundo o energúmeno, são amaldiçoados, daí porque, sobre o grande continente chovem todas as desgraças. O vírus da Aids, do Ebola, a fome, a mais degradante miséria , tudo isso, seria consequência da maldição divina, que, segundo Feliciano, abrangeria, além dos negros, também judeus e muçulmanos. Quem diz tão estúpida e desumana asneira, criminosamente racista e sectária, preside uma Comissão de Direitos Humanos.

Um partido que se intitula social cristão, não deveria ter em seus quadros quem poderá ser tudo, menos um seguidor de Cristo. Em boa hora, o líder do PSC, deputado André Moura, já enxergou a enrascada onde se meteu ao apoiar Feliciano , e dá claros sinais de que quer vê-lo fora da comissão. O partido deveria ir além, e, em busca de uma sintonia com a dignidade ferida dos brasileiros, tratar logo de livrar-se das cafajestadas do sinistro deputado.

O desastroso parlamentar, na condição de pastor, esteve em Canindé do São Francisco. A visita causou na sociedade uma sensação de pasmo e de revolta. Seria recomendável incluir como palestrante em evento religioso, um homem- bomba, intolerante e agressivo, que por onde passa gera atritos e espalha ociosidades?

Luiz Eduardo Costa
Jornalista

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