Amamos nossos filhos. Mas às vezes eles nos tiram do sério. Quem nunca
passou um dia deprimida depois de ouvir “mamãe, eu te odeio”? Ou “não
quero mais morar com você”?
A boa notícia é que você não precisa levar esses “ataques” tão a sério.
Segundo a psicóloga infantil Anne Lise Scapaticci (SP), os pais
costumam interpretar as falas das crianças como se estivessem
conversando com adultos. Aí está o erro. “Em geral, a criança protesta
em um determinado momento em que está com raiva, brava ou irritada,
querendo dizer ‘presta atenção nisso’. E os pais precisam aprender a
ouvir sem levar para o pessoal”, explica Anne Lise.
Ou seja, se o seu filho diz que não ama você, provavelmente ele está
querendo dizer “não estou gostando da sua atitude nesse momento, quero
que você saiba disso e fique tão irritada quanto eu”. Por isso, mais
importante do que prestar atenção no que seu filho falou, é entender por
que ele falou. O que aconteceu para deixá-lo tão nervoso? Pensando
assim, provavelmente será mais fácil lidar com essas “frases
bombásticas”. Mais um detalhe importante que você precisa saber: as
crianças geralmente se arrependem do que disseram poucos minutos depois.
Em nosso Facebook, perguntamos às leitoras quais as frases mais
irritantes que elas já tinham ouvido da boca dos filhos. Listamos as
melhores respostas abaixo, com dicas de como encará-las sem drama.
Diante dos comentários, a leitora Jessica Muniz fez o seguinte
comentário com muito bom humor: “Vou aproveitar bastante a minha filha
enquanto ela não sabe falar”. Mas não precisa se desesperar! Um pouco de
paciência e jeitinho basta para resolver. A seguir, você confere as
dicas da psicóloga clínica Ana Lúcia Castello para passar por esses
momentos sem exagerar no sermão e sem despejar seus traumas pessoais nas
crianças:
“Odeio você”
As crianças geralmente falam isso quando estão com muita raiva, quase como um desabafo. Elas dizem na tentativa de colocar essa irritação para fora e, claro, deixar a mãe ou o pai tão chateados quanto elas. Como você já deve ter percebido, quase sempre elas conseguem. Se a criança disser isso na tentativa de alcançar alguma coisa, não ceda em hipótese alguma ao desejo dela. Os pais devem ficar calmos, responder com um “mas eu te amo” e seguir em frente. É bem possível que seu filho se arrependa logo depois do que falou ou esqueça da briga.
“Quero que você morra”
Muito ouvida nos consultórios de psicólogos, essa é quase tão avassaladora quanto a primeira. Segundo Ana Lúcia, ela é dita pelas crianças na mesma situação: quando estão com muita raiva ou impacientes. Lembre-se: é um desejo momentâneo e nem sempre as crianças conseguem medir a gravidade do que estão afirmando. Não retruque como se estivesse respondendo para um adulto e procure descobrir se há algo que você possa fazer para diminuir a raiva do seu filho.
“Você não manda em mim” ou “Quem manda na minha casa sou eu”
Essa frase geralmente aparece quando a criança está com dificuldade em aceitar limites. Desde pequena, ela precisa saber que os pais mandam nela, sim. Não dá para abrir exceções em situações como essa. Responder algo como “a casa também é do papai e da mamãe e você terá que obedecer às nossas regras” não vai fazer mal a ninguém. E você não precisa se sentir culpado. Seu filho precisa de limites e não pode decidir sozinho tudo o que quer fazer. Outra estratégia, caso ele se mostre relutante em fazer alguma coisa, é dar mais opções. Por exemplo, se você quer que ele coma fruta no lanche, em vez de dizer “coma essa”, dê as possibilidades e deixe que ele faça a escolha.
“Se você não fizer, o papai faz” ou “Se você não fizer, a mamãe faz”
Infelizmente, se o seu filho falou isso para você não é um problema dele. Se ele sabe que você e o seu (ou a sua) companheiro (a) não estão afinados, vai usar isso para conseguir o que quer. Segundo Ana Lúcia, é fundamental que cada um tenha seu papel definido dentro de casa e que os pais estejam de acordo em relação ao modo como educam os filhos. Não adianta a mãe dizer que o filho precisa fazer lição de casa se o pai insiste que tudo bem assistir a um filme primeiro. Se você ouviu essa frase, prepare-se para uma conversa a dois.
“Quero agora”
Mais uma vez, é uma questão de colocar limites. Se você parar pra pensar, os adultos também pensam assim de vez em quando, só que eles não verbalizam tanto – nem fazem birra por isso. Vai dizer que você nunca lembrou de suas férias, que só vão chegar daqui a um mês, e pensou “quero agora”? Quando o seu filho vem com essa, o ideal é explicar por que ele não vai conseguir o que quer naquele exato momento e qual será o momento adequado – se é que ele chegará. Ele quer tomar um sorvete? Tudo bem, mas só depois do almoço. Ou não, não vai ter sorvete hoje, porque o combinado é só no final de semana.
“Fica calma” ou “Fica calmo”
Bom... talvez vocês precisem mesmo ficar mais calmos! Muitas vezes, as mães e os pais estão nervosos por causa de alguma coisa que os filhos fizeram ou por qualquer outro motivo e acabam distribuindo grosserias pela casa. Sempre que for dar alguma instrução para o seu filho, o ideal é estar em estado “normal”, ou seja, sem grandes alterações de humor. Às vezes as crianças têm razão!
“Você é gorda”
Ok, deixamos essa para o final porque achamos o golpe muito baixo. Mas, para Ana Lúcia, esse é mais uma variação do “eu odeio você”. Só que com uma dose extra de maldade. Se o seu filho disse isso, é porque ele sabe que vai te tirar do sério – e esse é o objetivo. Por isso, mais uma vez, conte até dez e não dê bola. Tente entender o que deixou a criança tão nervosa sem entrar no mérito do seu peso. Se você fizer isso, grande chance de ela ter certeza que achou seu ponto fraco e reproduzir a cutucada da próxima vez.
Fonte: Revista Crescer
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